Que é Fair Play?

INTRODUÇÃO

O desporto na antiguidade representado na arte cerâmica O desporto é uma prática cultural presente na história da humanidade desde a Grécia homérica. Actualmente, associado ao lazer e ao uso do tempo livre é reconhecido como profissão, matéria-prima da indústria cultural, além de figurar como uma das poucas formas de rápida ascensão social. Na antiguidade os jogos olímpicos eram uma excepcional ocasião de aproximação entre os diversos estados gregos, constituíam a alma das relações interhelênicas, uma vez que equivaliam a verdadeiras assembleias gerais desse povo, e serviam de expressão à areté , que representava hombridade, valor que não era aprendido tanto pela transmissão de normas de conduta, mas pela prática da vida de pessoas valorosas.

Prova de corrida no princípio do século XXO movimento olímpico contemporâneo procurou, por meio do fair play, reviver a areté grega. Citado pela primeira vez por William Shakespare em 1595, sem vínculo algum com o fenómeno desportivo, o fair play tornou-se uma questão importante na luta daqueles que defendem que o desporto é mais do que uma actividade competitiva cujo resultado esperado é a vitória.

 

Entretanto, diante das transformações do mundo contemporâneo, o fair play também vem sofrendo adequações sem perder suas matrizes originais. Isto é, o sentido de fair play vem sendo alterado da mesma forma que o amadorismo foi superado pelo profissionalismo dentro do movimento olímpico internacional. Tais mudanças ocorreram devido a inúmeras transformações socioculturais que o mundo viveu ao longo do breve século XX, como as duas grandes guerras mundiais seguidas da guerra fria, o aprimoramento dos estudos da fisiologia do exercício e do desporto de alto rendimento e da tecnologia direccionada para o desempenho competitivo. Essas mudanças foram necessárias para actualizar o fair play frente à nova ordem mundial e à inédita profissionalização das diversas esferas do desporto.

Ben JohnsonPor outro lado, o desporto actual, enquanto indústria mobilizadora de grandes interesses económicos e paixões de nações inteiras, há muito que se equilibra de forma instável entre os notáveis e ancestrais princípios do espírito desportivo e as incontornáveis leis de mercado, do lucro, do prestígio e da fama, em suma, do sucesso, obtido muitas vezes à custa de meios ilícitos. Veja-se, por exemplo, o que tem acontecido em modalidades como o Atletismo, o Ciclismo ou o Halterofilismo, onde vários atletas foram já sancionados com suspensão da actividade e devolução de medalhas, títulos e prémios alcançados devido ao uso de substâncias proibidas.

 

 

O murro do João

Mas, no caso do Futebol, por exemplo, o doping nem é sequer o maior problema quando se aborda a questão do fair play e do espírito desportivo: a corrupção entre os agentes desportivos, a violência nos estádios, dentro e fora do campo, o desrespeito pelo árbitro e pelas leis do jogo, a batota das simulações, a encenação das falsas lesões, os comportamentos racistas e xenófobos, etc., têm vindo a retirar muita da beleza que desde sempre caracterizou esta modalidade. E o pior é que, o mediatismo que a imprensa e a televisão lhe confere, consegue fomentar, não raro, comportamentos desleais e transformar até, condutas reprováveis em exemplos a seguir: quem já não ouviu, por exemplo, comentários do tipo "ele só respondeu à provocação" ou "ele devia ter feito falta"?

A gravidade de afirmações deste tipo ainda é maior quando elas são ditas por profissionais da comunicação, treinadores de referência ou jogadores de topo, uma vez que o seu impacto no público, nomeadamente nos jovens, é ainda maior e confere-lhes legitimidade suficiente, capaz de elevar faltas intencionais e desonestas à condição de modelo de comportamento competitivo.

Abraço de rivaisNo entanto, é com agrado que se vai assistindo com maior frequência a comportamentos e atitudes em prol da verdade do jogo, da lealdade entre os adversários e da sã convivência entre adeptos rivais: o árbitro que reconhece que se enganou, o jogador que reconhece que fez falta ou que interrompe o jogo para que um adversário seja assistido, o adepto derrotado que confraterniza, após o jogo, com o vitorioso, são exemplos que devem ser enaltecidos e merecedores de elogio público, conquanto contribuem para a verdadeira promoção do desporto, em tudo o que ele tem de melhor - a beleza plástica do movimento, a emoção da incerteza do resultado, a disputa justa, leal e honesta por um objectivo, o limite e a superação do homem.

Na realidade, o desporto sem Fair Play, não difere muito de uma batalha, onde tudo é permitido para se alcançar a vitória, onde só o resultado conta e onde os fins justificam os meios.

Assim não! Desporto sim, mas com Fair Play!

 

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