Ambientes on line e a Web 2.0
 
INTRODUÇÃO

                            Os ambientes on line e a Web 2.0


Os ambientes virtuais de aprendizagem caracterizam-se por um espaço na
Internet que possibilita a construção de novos saberes.

De acordo com Mason (1998, p.275, apud OKADA, 2003) os ambientes de aprendizagem on-line podem ser classificados em três tipos:

1) Ambiente instrucionista: ambiente centrado no conteúdo - que pode
ser impresso - e no suporte que são tutoriais ou formulários enviados por
e-mail. A interação é mínima e a participação online do estudante é
praticamente individual.

2) Ambiente interativo: ambiente centrado na interação online, onde a
participação é essencial no curso. O objetivo é atender também as
expectativas dos participantes. Nesse ambiente ocorre muita discussão e
reflexão.

3) Ambiente cooperativo: ambiente cujos objetivos são o trabalho
colaborativo e a participação online. Existe muita interação entre os
participantes por meio da comunicação online, construção de pesquisas,
descobertas de novos desafios e soluções.

O desenvolvimento tecnológico e mais recentemente através da Web 2.05 tem possibilitado a junção desses ambientes, tornando-os espaços de aprendizagem cada vez mais ricos e funcionais, nos quais alunos, tutores e professores se redefinem, compartilham e reconstroem conteúdos, com base na colaboração e na interação dinâmico. Como parte desse contexto, os ambientes utilizam dispositivos variados de interface gráfica e recursos multimídia, possibilitando a formação de um espaço para a reflexão coletiva, contribuindo para a criação de novos conhecimentos.

Tais ambientes, a partir de sua capacidade de interação e colaboração vieram preencher uma lacuna existente na comunicação interpessoal entre os atores que participam do processo de ensino e aprendizagem: professor, tutor e aluno. Contrapondo o conceito de uma via de mão única, onde as informações são propagadas apenas em um sentido (um para um ou um para muitos). A Web 2.0 determina um novo conceito, estabelecendo a comunicação de muitos para muitos, nesta nova visão, a interatividade e a colaboração representam um grande trunfo no processo de ensino e aprendizagem, possibilitando que todos os envolvidos no processo troquem idéias e experiências coletivamente.
Acerca dessa nova abordagem, podem-se apontar os ambientes virtuais de aprendizagem como espaços interativos dotados de ferramentas que os tornam com as seguintes características:

Igualitários e centrados no usuário (aluno, professor e tutor), ricos em recursos textuais e multimídia (animações), fazem uso da comunicação multi-sensitiva.
Representam uma matriz de diálogos e não uma coleção de monólogos permite a extinção do receptor passivo; e possibilitam o consumo e criação de conteúdo dinâmico com a participação de todos os envolvidos.

Acerca da dinamicidade na publicação de conteúdos por meio das ferramentas da Web 2.0, Voigt (2007, p.3) comenta que "não há mais conteúdo (texto, áudio, vídeo, opinião)" considerado acabado e com uma finalidade específica. Tudo é visto como matéria-prima, que pode ser retrabalhada de acordo com interesses e necessidades do usuário. "Remixagem é a palavra chave desta tendência".
Outra característica é que os conteúdos não são classificados de forma rígida e definitiva, ou seja, "a classificação não se prende a uma taxonomia com categorias rígidas e pré-definidas, mas é determinada pelo próprio usuário. A esta possibilidade de o próprio usuário definir etiquetas classificatórias dá-se o nome de folksonomia".

Nesse contexto, observa-se o rompimento de paradigmas atribuídos pela então chamada Web 1.0, onde os alunos atuavam apenas como consumidores de informação, ou seja, eram meros expectadores da ação que se passava na página que visitavam, pois não podiam alterar ou editar conteúdos.
A comunicação até então centrada na ligação unilateral (emissor - mensagem - receptor) com a Web 2.0 passa a receber um novo fluxo no qual todos interagem entre si possibilitando que os consumidores da informação atuem como produtores de informação e tornem-se eles mesmos co-produtores.
Nesta direção, Bottentuit Junior e Coutinho (2008) apontam que a partir desta nova filosofia, os alunos tornam-se também produtores de informação, distribuindo e compartilhando seus conhecimentos e idéias de forma fácil e rápida.

Complementam ainda afirmando que a filosofia da Web 2.0 prima pela facilidade na publicação e rapidez no armazenamento de textos e arquivos, ou seja, tem como principal objetivo tornar a Web um ambiente social e acessível a todos os utilizadores, um espaço onde cada um seleciona e controla a informação de acordo com suas necessidades e interesses.

Para Alexander (2006) a Web 2.0 promove a colaboração e o compartilhamento do conhecimento de forma coletiva e descentralizada de autoridade, provendo liberdade para os participantes utilizarem e reeditarem conteúdos. Nesse sentido, as ferramentas da Web 2.0 possibilitam um ambiente de fomento para o trabalho colaborativo e estímulo à escrita, provendo uma comunicação mais rica e dinâmica.

O papel do professor, nesse contexto, torna-se descentralizado à medida que todos os envolvidos são aprendizes e podem contribuir uns com os outros.
Essa perspectiva vai ao encontro para a formação da inteligência coletiva, possibilitando a construção do conhecimento de modo significativo, desenvolvendo habilidades intra e interpessoais.

Nesta abordagem, os alunos deixam de ser independentes para serem interdependentes.

Os blogs, a Wikipedia, os podcasts, o Hi5 e o Del. icio.us são apenas alguns exemplos de ferramentas que fazem parte da variedade de sistemas disponíveis hoje na Web 2.0. SegundoBottentuit Junior e Coutinho (2008, p.5), há uma gama de aplicações que compreendem o novo paradigma da Web 2.0, tais como: softwares para criação de redes sociais (Blogs, Orkut, Hi5); aplicativos para edição colaborativa (Blogs, Wikis, Podcasts, Google Docs); aplicativos de comunicação on-line (Skype, VoIp, Google Talk); aplicativos para acesso a vídeos (YouTube,Google Vídeos); aplicativos para bookmark social (Del.icio.us).
(Todavia, é importante destacar que dentre as ferramentas da Web 2.0 mais difundidas e utilizadas em contextos educativos, estão os blues, os wikis e os podcasts).
Abaixo são apresentadas as principais características dessas ferramentas:
a) Blog: Trata-se de uma ferramenta que surgiu antes da Web 2.0, no entanto, segundo Voigt (2007), com os novos serviços de criação e hospedagem, aliados à possibilidade de receber conteúdos via RSS6, os blogs tornaram-se populares na Web atual.
Os blogs são espaços online para publicação de conteúdos sobre diversos assuntos combinando textos, imagens, vídeos e links para outros blogs ou páginas Web em ordem cronológica, podendo ser utilizados para a prática pedagógica no sentido de possibilitar interação entre autor e leitor, pois disponibilizam um espaço para que os leitores possam trocar suas idéias e discutirem projetos escolares, tornando-se um ambiente informal para conversas coletivas.

A construção de blogs encoraja o desenvolvimento do pensamento crítico ao oferecer aos alunos a oportunidade de confrontarem suas idéias e reflexões, contribuindo para a construção social do conhecimento. Os mesmos autores destacam o aumento crescente do número de blogs (a cada dia surgem 75.000 novos blogs nos Estados Unidos).

Para os autores, embora sejam conceituados como meros diários online e ferramentas de publicação individual e de celebração do ego, os blogs são atualmente espaços fundamentais de interação e compartilhamento do conhecimento, de tal modo que recentemente surgiu a Internet Blog Serial Number - IBSN, ou seja, um número de indexação que visa garantir o direito dos autores de um blog sobre as produções literárias postadas, obrigando que sejam feitas referências a seus conteúdos.

b) Wiki: representa um espaço rico e dinâmico que favorece o potencial colaborativo tornando-se uma ferramenta para gerenciar conteúdos online e prover uma base de conhecimentos compartilhados. Conforme Schons (2008), os wikis correspondem a páginas Web onde os próprios colaboradores podem criar, gerenciar e publicar conteúdos sob a forma de textos, imagens e vídeos aos quais seus conteúdos são expandidos e categorizados conforme a ocorrência de diferentes colaborações. Devido a sua filosofia, segundo Villalta (2007) os wikis possibilitam que os colaboradores fiquem mais motivados, pois passam da posição de leitor e observador para a de escritor, criador e autor de conteúdos. O autor destaca que os wikis representam ferramentas ilimitadas para a prática colaborativa, sendo as mais efetivas em termos de aprendizado em grupo.

Para Bottentuit Junior e Coutinho (2008), os seguintes benefícios educacionais podem ser obtidos com o uso dos wikis: interação e colaboração dinâmica com os alunos; troca de idéias; construção de glossários, dicionários, livros de texto, manuais e repositórios de aula; controle de todo o histórico de colaborações por aluno permitindo que o professor avalie sua evolução; dentre outros.

c) Podcast: trata-se de uma gravação de áudio personalizada para divulgar informações, opiniões e/ou entrevistas. Para Voigt (2007), Podcasts podem ser utilizados para disponibilizar nos AVAs conteúdos das aulas, explicações teóricas sobre um determinado assunto e comentários ou mensagens que podem ser ouvidos a qualquer momento pelos alunos.

As ferramentas da Web 2.0 tornam o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico, inovador e potencializam a criação conjunta de conhecimento. A utilização dessas ferramentas formalmente estruturadas nos AVAs representam um mecanismo poderoso para a mediação pedagógica, aumentando exponencialmente as oportunidades de construção colaborativa do conhecimento.

Esse contexto supõe uma releitura das abordagens até então utilizadas para a relação entre professores, alunos e tutores onde com base na construção coletiva e a partir de seus papéis próativos de produtores e desenvolvedores, criam e modificam conteúdos de forma dinâmica. Para a educação online, segundo Voigt (2007), isso significa que além do professor e tutor, o aluno passa também a ser autor e pode participar na produção do material didático.

Nesse sentido, uma grande parcela de usuários utilize apenas os serviços mais elementares da "Web 1.0", há uma geração que vem crescendo com a Internet e que está atenta às novas possibilidades. Esta geração, também chamada de "nativos digitais", não se contenta mais com o uso da Internet apenas como meio de transporte, seja para envio de e-mails ou disponibilização de conteúdos. Seria também um grande erro pedagógico utilizar a Internet apenas para este fim. A Web 2.0, portanto, permite que novos padrões de comportamento sejam adotados entre os atores do processo de ensino e aprendizagem e dessa forma, esta inovação deve ser considerada a fim de estar em sintonia com as necessidades atuais da educação à distância.

Referências:

ALEXANDER, B. Web 2.0: A new wave of innovation for teaching and learning?. EducauseReview, v. 41, n. 2, p. 32-44, 2006.

BOTTENTUIT JUNIOR, J. B.; COUTINHO, C. M. P. As Ferramentas da Web 2.0 no apoio à Tutoria na Formação em E-learning. In: Association Francophone Internationale de Recherche Scientifique em Education (AFIRSE), 2008.


COUTINHO, C. P.; BOTTENTUIT JUNIOR, J. B. Blog e Wiki: Os Futuros Professores e as Ferramentas da Web 2.0.IX Simpósio Internacional de Informática Educativa (SIIE), 2007.

MANESS, J. M. Teoria da Biblioteca 2.0: Web 2.0 e suas implicações para as bibliotecas. Informação & Sociedade: Estudos. João Pessoa, v.17, n.1, p.43-51, Jan./Abr., 2007.

MORAN, J. M. Contribuições para uma pedagogia da educação online. In: SILVA, Marco (org.). Educação online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa. São Paulo: Loyola, p. 39-50, 2003.

NONATO, E. R. S. EaD, TIC e Internet: ainda estranhas à escola. In: 13º Congresso
Internacional de Educação a Distância (CIED), Curitiba, 2007.

OKADA, A. L. P. Desafios para EAD - Como fazer emergir a colaboração e a cooperação em ambientes virtuais de aprendizagem. In: SILVA, Marco(org). Educação online: teorias, práticas,legislação, formação corporativa. São Paulo: Loyola, p.273-291, 2003.

VILLALTA, M. M. Una herramienta emergente de la Web 2.0: la wiki. Reflexión sobre sus usos
educativos
. Revista Iberoamericana de Educación Matemática. n. 9, Mar., 2007.

VOIGT, E. Web 2.0. E-learning, EaD 2.0: para onde caminha a educação a distância?. In: 13º Congresso Internacional de Educação a Distância

 

   
   
Aventura na Web criada por Rubens Silva Filho com