"Quando, em Junho deste ano, fui convidado a abrir a campa do cemitério em que enterrara esta peça e a passear com ela pela cidade, encenando-a no D. Maria II, hesitei muito antes de aceitar o convite. [...]
Não estaria a peça ultrapassada?
Não teriam os últimos dezassete anos alterado a estrutura social e económica portuguesa que pretendi descrever quando escrevi Felizmente Há Luar!, em 1961? [...]
Desenterrada e estudada a peça, pareceu-me e parece-me que ela não retrata unicamente o período em que foi escrita e que as pessoas que nela se movem e falam continuam e continuarão a mover-se e a falar noutros contextos e noutros períodos históricos.
Vai haver sempre gente como a Matilde, o Gomes Freire, o Sousa Falcão e o Manuel e o avançar para o futuro vai depender, sempre, da existência de homens capazes de entender, em cada dia, o dia seguinte. O presente - qualquer presente - é sempre uma batalha entre esses e aqueles que recusam o dia de amanhã - aqueles que em 1817 desempenharam os papéis de D. Miguel Pereira Forjaz e do Principal Sousa, mas que dão por outros nomes em outros momentos históricos."
Luís de Sttau Monteiro, excerto de um texto publicado no folheto distribuído aquando da representação do Felizmente Há Luar!, no Teatro D. Maria II, em 29 de Setembro de 1978